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Observatório de Jornalismo Ambiental

Quinta-feira, 20 de Julho de 2023

 
     

Altos índices de desmatamento e desconhecimento sobre o Cerrado: a mídia precisa fazer seu papel

  

Enquanto a Amazônia está na pauta dos principais veículos de comunicação nacionais e internacionais, qual é o espaço que o bioma Cerrado ocupa?

  


Por Patrícia Kolling*

Notícias recheadas com muitos números do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) informavam no final da semana passada a queda nos índices de desmatamento na Amazônia. Segundo notícia do site uol, a queda foi de 33,6% no primeiro semestre de 2023, em comparação ao mesmo período do ano passado. Os números foram divulgados pelo Ministério do Meio Ambiente e Mudanças do Clima, na quinta-feira, dia 06.

Enquanto, porém, os números de desmatamento na Amazônia Legal estão caindo, como resultado de muitas ações do atual governo, o bioma Cerrado registrou aumento de 21,1% no desmatamento no primeiro semestre. Segundo dados do Deter/Inpe, citados pela notícia da Agência Pública, foram desmatados 4.407,7 km² no bioma até 30 de junho. Somando os índices de Cerrado e Amazônia, foram desmatados 7.056,5 km² entre janeiro e junho, 7,4% a menos do que no mesmo período do ano anterior, quando a soma foi de 7.625,5 km².  A notícia também destaca na área do estado de Mato Grosso, que congrega a Amazônia Legal, o desmatamento cresceu 7,1%, ante os seis primeiros meses de 2022, registrando 905,3 km² de corte raso. “O Estado foi o mais desmatado da região – o que não ocorria desde 2017 – e respondeu por 34,1% da perda florestal na Amazônia Legal em 2023. A área equivale a 573 Parques do Ibirapuera”, ressalta o texto. Interessante destacar que Mato Grosso, tem parte do seu território no bioma Amazônia, parte no bioma Cerrado e outra parte no Pantanal.

O site G1 somente publicou sobre o assunto no domingo, dia 09 de julho, e buscou contextualizar o cenário, com o texto: “Porque o desmatamento cai na Amazônia e aumenta no Cerrado?“, ouvindo especialistas e justificando os dados. O texto atribui a redução do desmatamento na Amazônia a retomada das cobranças de multas a infratores ambientais, a intensificação da fiscalização e o retorno da aplicação desembargos em áreas que cometeram crimes ambientais.

Já quanto ao Cerrado, a matéria apresenta como principais desafios: as dificuldades de monitorar autorizações para o desmatamento liberadas por órgãos ambientais regionais, o fato das áreas de cadastro (CAR) liderarem o desmatamento, sendo que 76% dos alertas foram registrados em áreas cujos donos são cadastrados, além da falta de reconhecimento do território ocupado por povos tradicionais, sendo que só 8% do bioma são legalmente protegidos com unidades de conservação. O texto também destaca que o Plano de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento no Cerrado ainda está em elaboração, enquanto o plano da Amazônia existe desde 2004.

Uma reportagem publicada, em junho pela BBC Brasil, já destacou esse assunto “Como a destruição do Cerrado é ofuscada por ‘prioridade’ a Amazônia” . O texto traz uma importante reflexão sobre as diferenças de prioridades entre os biomas, como: a legislação mais permissiva no Cerrado em relação a Amazônia e o Código Florestal, que protege 80% da mata localizada em áreas privadas na Amazônia, enquanto apenas 20% a 35% das áreas de Cerrado são reservas legais. Portanto, a lei estabelece uma proporção quase oposta para os dois biomas. Na reportagem, os especialistas argumentam que essas diferenças não fazem sentido “já que as duas áreas estão fortemente relacionadas e dependem uma da outra para sobreviver. Todos os rios da margem direita do Amazonas dependem da água das entranhas do Cerrado.(…) Se o Cerrado morrer, metade da Amazônia morre junto”.  

A reportagem faz importantes comparações e reflexões sobre aspectos econômicos, políticos, de legislação e sociais que envolvem o Cerrado. Mostra que o bioma não é considerado patrimônio, como a Amazônia, não é foco de políticas públicas e não desperta atenções internacionais. Consequentemente, também não é pauta da cobertura midiática nacional e internacional.

O texto também caracteriza esse que é o segundo maior bioma brasileiro, mostrando a sua importância na distribuição das águas das bacias hidrográficas e que ele concentra 1/3 da biodiversidade brasileira. Ou seja, é uma reportagem que se contextualiza com profundidade o tema, o que é fundamental, pois como dizem os especialistas no texto: “A população não conhece o Cerrado e, portanto, não luta para defendê-lo”. E neste aspecto os veículos jornalísticos tem responsabilidades. Enquanto a Amazônia está na pauta dos principais veículos de comunicação nacionais e internacionais, qual é o espaço que o bioma Cerrado ocupa? Quando se fala da sua biodiversidade? Da importância dele para a regulação do clima? De suas características de raízes profundas para a manutenção das águas subterrâneas? Da sua importância para a produção de alimentos?

 

 

 

*Texto produzido no âmbito do projeto de extensão "Observatório de Jornalismo Ambiental" por integrante do Grupo de Pesquisa Jornalismo Ambiental (CNPq/UFRGS). A republicação é uma parceria com o Núcleo de Ecojornalistas do Rio Grande do Sul (NEJ-RS). Patrícia Kolling é doutora em Comunicação pela UFRGS, docente no curso de Jornalismo da Universidade Federal de Mato Grosso, Campus do Araguaia, integrante do Grupo de Pesquisa Jornalismo Ambiental (CNPq/UFRGS).

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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